terça-feira, 23 de setembro de 2014

Choques Elétricos! Quais os fatores que influenciam nas suas consequências

Quem nunca tomou um choque?


Alguns fatores podem influenciar na consequência do choque elétrico e cabe a nós técnicos e engenheiros de segurança conhecermos estes fatores, independente do ramo em que se trabalha, pois em praticamente todas as atividades econômicas é necessária a utilização de energia elétrica em todo ou em alguma parte do processo produtivo.

A NR 10 no seu subitem 10.1.2 dispõe que a norma se aplica às fases de geração, transmissão distribuição e consumo de energia elétrica.

CNAE
ATIVIDADE
GRAU DE RISCO
35.11-5
Geração de energia elétrica.
03
35.12-3
Transmissão de energia elétrica.
03
35.13-1
Comércio atacadista de energia elétrica.
03
35.14-1
Distribuição de energia elétrica.
03

                Após pesquisa realizada no site da Previdência Social (previdência), cheguei aos seguintes números de acidentes do trabalho.



Os dados demonstrados no gráfico 1 representam bem a realidade de acidentes do trabalho que ocorrem no setor elétrico, é importante ressaltar um aumento significativo nos números de acidentes registrados na etapa de transmissão de energia elétrica, os demais índices se mantiveram dentro da margem dos anos anteriores com ressalvas à fase de geração, onde houve uma pequena redução em relação aos anos de 2010 e 2011.

                Considerando que o ramo da elétrica é junto com o da Construção, um dos ramos que possuem os maiores índices de acidentes do trabalho, torna-se importante saber quais são os fatores que influenciam nas consequências do choque elétrico, mas antes de conhecer estes fatores, vamos a algumas definições.

O que é o choque elétrico?

O choque elétrico é um estímulo rápido e acidental do sistema nervoso do corpo humano causado pela passagem de uma corrente elétrica. A passagem da corrente elétrica ocorre quando o corpo é submetido a uma tensão elétrica suficiente para vencer a sua impedância.

Todo o choque elétrico tem potencial para causar danos ao organismo?

Não, Como resultado da passagem da corrente elétrica pelo corpo humano pode-se ter desde uma sensação de formigamento até sensações dolorosas com contração muscular.

Como acontece o choque elétrico?

Acontece pela passagem de uma corrente elétrica pelo corpo em contato com um objeto eletrificado. A condição básica para se levar um choque de origem elétrica é estar submetido a uma diferença de potencial (DDP) suficiente para fazer circular uma corrente que provoque efeitos no organismo.

Quais são as naturezas do choque?

Quanto à natureza do choque, pode advir por contato com um circuito energizado, por meio de um corpo carregado eletricamente (energia estática) ou por uma descarga atmosférica (raios).
                Os principais fatores que podem influenciar nos efeitos do choque elétrico são:


Intensidade da corrente: Quanto maior for a intensidade da corrente que percorrer o corpo, pior será o efeito sobre o mesmo. As correntes elétricas de baixa intensidade provocam a contração muscular, situação em que a vítima muitas vezes não consegue se desprender do objeto energizado.

Frequência: As correntes elétricas de alta frequência são menos perigosas ao organismo humano do que as de baixa frequência.

Tempo de Duração: Quanto maior for o tempo de exposição à corrente elétrica, maior será seu efeito danoso no organismo.

Natureza da Corrente: O corpo humano é mais sensível à corrente alternada de frequência industrial (50/60 Hz) do que à corrente contínua. O limiar de sensação da corrente contínua é da ordem de 5 mA, enquanto que na corrente alternada é de 1 mA. A corrente elétrica passa a ser perigosa para o homem a partir de 9 mA, em se tratando de corrente alternada, e, 45 mA para corrente contínua.

Condições do Organismo do Indivíduo: Os efeitos do choque elétrico variam de pessoa para pessoa, e dependem principalmente das condições orgânicas da vítima. Pessoas com problemas cardíacos, respiratórios, mentais, deficiência alimentar, etc., estão mais propensas a sofrer com maior intensidade os efeitos do choque elétrico. Os idosos submetidos a uma intensidade de choque elétrico relativamente fraca, podem sofrer sérias consequências.

Resistência do Corpo: Também a resistência ôhmica do corpo varia de indivíduo para indivíduo. A epiderme seca tem uma resistividade que depende do seu estado de endurecimento (calosidade). Esta é maior nas pontas dos dedos do que na palma da mão, e maior nesta do que no braço. A pele molhada diminui a resistência de contato, permitindo assim a passagem de maior intensidade de corrente elétrica.

Percurso da Corrente: Os efeitos fisiológicos da corrente elétrica dependerão, em parte, do percurso por onde ela passa no corpo humano, isso porque na sua passagem poderá atingir centros e órgãos de importância vital, como o coração e os pulmões.

sábado, 13 de setembro de 2014

NÍVEL DE AÇÃO; a que tipos de agentes ele se aplica, o que deve ser feito quando estes níveis são ultrapassados, quais NR me remetem a este valor.



É comum no ramo da Higiene Ocupacional a utilização de vários termos, próprios da área, como por exemplo: Grupo Homogêneo de Exposição, Limite de Tolerância, Insalubridade entre outros.
Dentre estes, temos um bastante utilizado é o NÍVEL DE AÇÃO, então cabe a nós higienistas saber o que é o NA, a que tipos de agentes ele se aplica, o que deve ser feito quando estes níveis são ultrapassados, quais NR me remetem a este valor.

O QUE É NÍVEL DE AÇÃO?


O embasamento legal para o nível de ação está disposto na NR 09 no subitem 9.3.6.1, que determina que nível de ação seja:


9.3.6.1 Para os fins desta NR, considera-se nível de ação o valor acima do qual devem ser iniciadas ações preventivas de forma a minimizar a probabilidade de que as exposições a agentes ambientais ultrapassem os limites de exposição. As ações devem incluir o monitoramento periódico da exposição, a informação aos trabalhadores e o controle médico.


            Ao fazermos a interpretação deste item conseguimos perceber que nível de ação é aquele nível onde devemos começar a implantar medidas de controle, sejam elas coletivas administrativas ou individuais, afim de que os níveis de exposição não ultrapassem o limite de tolerância a determinado agente, sendo assim, entende-se que o Nível de Ação é inferior ao Limite de Tolerância. 

 Nível de Ação < Limite de Tolerância

Logo, se o Limite de Tolerância é disposto como uma concentração ou intensidade ao qual não poderá ser ultrapassado, o Nível de Ação também é um valor em concentração ou intensidade.


SEGUNDO AS NORMAS REGULAMENTADORAS, QUAIS AGENTES POSSUEM NÍVEL DE AÇÃO E QUAIS SÃO OS VALORES?



            A própria NR 09 é quem determina os níveis de ação, esta determinação está nos subitens 9.3.6.2 e ANEXO I da NR 09, itens 4.2.4 e 4.3.2.
            Os agentes que possuem Nível de Ação são:
·         Ruído;
·         Agentes químicos;
·         Vibração (a partir do dia 13 de agosto de 2014 através da Portaria MTE Nº 1.297).
Os valores atribuídos como Nível de Ação a estes agentes são os seguintes:
 

AGENTE

NÍVEL DE AÇÃO

OBSERVAÇÃO

Ruído

Dose de 0,5 (dose superior a 50%), conforme critério estabelecido na NR-15, Anexo I, item 06.

Tecnicamente sabemos que o LT para uma exposição de oito horas é de 85 dB(A) e que este Nível corresponde a dose = 1, apropriando-se do IDD = 5 dB(A) poderíamos afirmar que o nível de ação para ruído é de 80 dB(A), porém essa afirmação é errada! A dose = 1 ou 0,5 pode variar em função ao a jornada de trabalho. Por exemplo:
Jornada de trabalho: 4h/dia;Jornada de trabalho: 8h/dia;
Dose = 1 (90 dB(A))Dose = 1 (85 dB(A))
Nível de Ação = 0,5 (85 dB(A)) Nível de Ação = 0,5 (80 dB(A))

Agentes químicos

Metade dos limites de exposição ocupacional.
Os agentes químicos que possuem LT estão estabelecidos no ANEXO 11 da NR 15 (Link para o post sobre vibração), para facilitar a identificação do nível de ação para os agentes químicos eu criei a seguinte fórmula:

Nível de Ação = LT/2
Exemplo:
Agente químico: Fenol;
Limite de Tolerância: 04 ppm;
Nível de Ação: 02 ppm.

Vibração

(em mãos e braços)

O Nível de Ação corresponde a um Valor de aceleração resultante de exposição normalizada (aren) de 2,5 m/s2.
 
O nível de ação para a avaliação da exposição ocupacional diária à vibração em mãos e braços corresponde a um valor de aceleração resultante de exposição normalizada (aren) de 2,5 m/s2.
O limite de exposição ocupacional diária à vibração em mãos e braços corresponde a um valor de aceleração resultante de exposição normalizada (aren) de 5 m/s2. A mesma regra que é aplicada na determinação do Nível de ação dos agentes químicos pode ser usada na vibração em mãos e braços. Ou seja:
Nível de Ação = LT/2

Vibração (corpo inteiro)

O Nível de Ação corresponde a um valor da aceleração resultante de exposição normalizada (aren) de 0,5m/s2, OU ao valor da dose de vibração resultante (VDVR) de 9,1m/s1,75.
A exposição a este tipo de agente possui dois Níveis de Ação, pois o agente possui DOIS Limites de Tolerância sendo eles:

a)     Valor da aceleração resultante de exposição normalizada (aren) de 1,1 m/s2, ou;

b)     Valor da dose de vibração resultante (VDVR) de 21,0 m/s1,75.
 

QUE AÇÕES DEVEM SER TOMADAS QUANDO O NÍVEL DE AÇÃO FOR ULTRAPASSADO?



            A NR 09 no subitem 9.3.6.1 diz:

9.3.6.1 Para os fins desta NR, considera-se nível de ação o valor acima do qual devem ser iniciadas ações preventivas de forma a minimizar a probabilidade de que as exposições a agentes ambientais ultrapassem os limites de exposição. As ações devem incluir o monitoramento periódico da exposição, a informação aos trabalhadores e o controle médico.
 
            Logo entende-se que quando o nível de ação é ultrapassado devem ser iniciadas ações para que ele não ultrapasse o LT, e a exposição do trabalhador não se torne insalubre, é importante lembrar que estas ações devem ser tomadas de acordo com o que preconiza os subitens 9.3.5.2 ao subitem 9.3.5.4. 


APLICAÇÃO PRÁTICA.



Uma colega higienista que atua em uma empresa do ramo farmacêutico na cidade do Rio de Janeiro encaminhou há um grupo a seguinte pergunta.
 
“Em uma sala de envase de produtos químicos, é feita uma avaliação anual de agentes químicos e nesta avaliação foi detectada a presença de fenol na proporção de 0,0004 ppm, sendo que está proporção não garante insalubridade a dúvida é a seguinte, os trabalhadores são obrigados a utilizarem EPI (respiradores)? Pois mesmo que a exposição seja pequena, ainda assim os trabalhadores estão expostos a este agente.”
 
RESPOSTA:     Considerando que o uso do EPI, enquadra-se como uma ação preventiva recorremo-nos a NR 09 que determina quando devem ser iniciadas ações preventivas, segundo a NR 09 as ações preventivas devem ser INICIADAS quando o nível de ação for ultrapassado, logo o LT do agente químico fenol é de 04 ppm, aplicada a nossa fórmula identificamos que o nível de ação é de 02 ppm; uma vez que os trabalhadores estão expostos a 0,0004 ppm e o NA é de 02 ppm é correto afirmar que os trabalhadores NÃO necessitam usar o EPI (respirador) para esta situação, pois se o trabalhador estiver exposto a níveis inferiores ao NA, não é necessário que seja tomada nenhuma medida de controle. A exposição é classificada como IRRELEVANTE.
Observe o quadro que se segue:
 


I – Irrelevante

Quando o agente encontra-se sob controle técnico.

Cm < NA

(Concentração média é inferior ao Nível de Ação)

II – De Atenção

Quando o agente encontra-se sob o controle técnico.

NA < Cm < LT

(Exposição acima do Nível de Ação e abaixo do Limite de Tolerância)

III – Crítica

Quando a exposição não se encontra sob o controle técnico. Situações geralmente insalubres.

LT < Cm < Vmax ou VTETO

(Exposição acima do Limite de Tolerância, porém abaixo do Valor Máximo ou Valor Teto)

IV - Intolerável

Quando a Exposição não se enquadra sob o controle técnico. Situações de Risco grave e Iminente

LT,  Vmax ou VTETO < Cm


(Concentração média superior ao limite de tolerância, Valor Máximo ou Valor Teto)